Magno Reis
No período em que vivemos cada pessoa elege seu ponto máximo na vida, sendo este a realização plena e contínua, seja ele no relacionamento, no sucesso profissional, na formação de uma família ou até mesmo, em bens materiais. Destaco que somos marcados por um constante subjetivismo, nosso ponto ápice é individual, onde o que importa é simplesmente ter. Frente tais questões coloco as seguintes perguntas: Será assim mesmo a felicidade? Não seria a felicidade, algo universal a todas as pessoas? Será que ter é mais importante que ser e estar? Buscarei fazer de modo sucinto uma reflexão sobre como estamos buscando a felicidade em nossos tempos, tendo como força motriz a angústia das questões colocadas.
A princípio, observamos que nossa sociedade atual é marcada pelo prazer imediato, tanto na música, nos filmes, como nas relações interpessoais, dentre outros. Estamos nos colocando, cada dia mais, na cultura da velocidade, sendo ela em alguma coisa ou até mesmo alguém, tais coisas ou pessoas só nos fazem felizes até o momento em que aparece algo ou alguém novo ou até aparecer alguma dificuldade tanto com a coisa material ou com alguém. Disso, segue-se a mentalidade do consumista, gloriamos quanto podemos e jogamos fora sem qualquer sentimento de empreendimento pelos valores e afetos.
Neste seguimento, há quem diga, também, que a felicidade é provida por dinheiro, bens materiais e artigos de luxo. Entretanto, ouso afirmar que isso é uma atribuição de valores para algo que não tem valor.
Para cada pessoa a felicidade tem um significado especial, e para se chegar até ela deve-se percorrer caminhos diferentes segundo cada ponto de vista. Contudo, gosto daquela definição dada por Santo Agostinho, que diz ser “a felicidade a posse de Deus”, isto significa ter uma moderação na alma que nada mais é saber dar valor onde estamos sem querer demais, mas sem ter o espírito cômodo que nos coloca estáticos. Esta definição parece a mais próxima do que realmente sentimos quando estamos próximos da felicidade. Esta se exprime de dentro para fora de nosso organismo, um nascimento, e quando nos damos conta dela, ela nos foge de forma breve. Vemos que são raros os momentos da vida em que nos damos conta de estarmos comprometidos, pegos, juntos a felicidade e, infelizmente, na maioria das vezes não aproveitamos esta dádiva divina. Por isso, aquela frase tão conhecida e falada a todo o tempo: “Eu era feliz e não sabia”.
Todavia, em tudo podemos aprender e nada melhor do que aprender com as falhas. Este é momento em que podemos ser felizes de verdade, felicidade não é inalcançável, tampouco definível, é ela muito mais interior do que exterior. Como diz Lulu Santos: “Vamos viver tudo o que há para viver; vamos nos permitir”, porque não há sentido em uma vida onde a felicidade está colocada em coisas materiais, arrisco dizer que felicidade é viver as pequenas alegrias diárias. E, nunca o ter irá superar o ser¹ e o estar, pois são estes a essência da verdadeira felicidade
Por fim, recordo, entre tantos, um grande nome da história humana que sem dúvida buscou pela felicidade de modo esplendido, este é Jesus Cristo. Vemos que o Santo de Israel, defendeu o amor como o elemento fundamental para se atingir a harmonia em todos os níveis, inclusive no nível da felicidade individual. Em vista disso, observamos claramente que a felicidade isolada não serve, esta precisa ser coletiva para atingir a todos e isso se dá na prática do amor fraterno que gera harmonia em nosso meio. Pode parecer pouco, mas nossa felicidade é feita de simples momentos e pequenos detalhes que fazem com que ela seja muito, que ela seja tudo.
Referencias:
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e a vida feliz. 2º Trad. Nair de Assis de Oliveira. São Paulo, 1998.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 14ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
SANTOS, Lulu. Tempos Modernos. In. Catálogo: BR 26.064. Álbum: Tempos Modernos, 1982.
¹ “O ser não somente não pode ser definido, como também nunca se deixa determinar em seu sentido por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser determinado a partir do seu sentido como ele mesmo” (Heidegger 2005). O ser é autônomo, independente e indefinível. O ser nunca se manifesta direta ou imediatamente, mas sim como ser de um ente. Aquilo que faz presente o ente e que o ilumina, mas que também se faz presente e manifesta-se no ente. A compreensão do “ser” está sempre incluída em tudo que se apropria do ente; porém, o ser não é um ente. Vem daí a confusão básica, e que precisamos tomar cuidado ao abordá-la, entre ser e ente, e suas compreensões. O ente é um modo de ser e é determinado por este. O ente é tudo aquilo de que falamos / nos referimos; diz respeito a muitas coisas e em sentidos diferentes (como um cachorro, um pássaro, e até mesmo uma cama ou uma cadeira); é o que somos e como somos.
Esta é a compreensão de ser que apresentada no texto, em consonância com o filosofo alemão Martin Heidegger.